TULAP 18/10/2019 – 17:10
Como em outras religiões e filosofias, na Umbanda devemos desenvolver o nosso senso de observação e contemplação. Por ser uma religião recheada de fenômenos e movimento, algumas pessoas, equivocadamente, esquecem ou não se lembram que a Umbanda cultua a natureza e, portanto, nela devemos repousar nossa atenção em atividade contemplativa.
Em movimentos relativamente recentes dentro das escolas umbandistas vemos um crescente interesse sobre a meditação. O que digo desde já é muito auspicioso e louvável tal atitude.
Mas para além das meditações, ou independente dessa atividade, desde sempre a figura veneranda dos pretos-velhos nos inspira a contemplação, a admiração de Deus por meio de suas paisagens naturais. Fácil para nós observarmos a figura de um preto-velho sentado em um pedaço de árvore, tronco, ou toco, olhando para o horizonte onde se desponta um sol nascente ou poente, e na visão árvores, plantações, riachos ou praias.
Difícil é entendermos que além de uma imagem, a figura é um convite, um exemplo a ser seguido pelos membros de nossa Umbanda querida. O ato de observar a natureza, contemplando a criação Divina, os reinos dos Orixás trazem uma conexão com energias mais puras e antigas da Terra, nos auxiliando em equilíbrios magnéticos e energéticos, além de poder fazer verdadeiros milagres em nossa mente espiritual e material.
Sempre que posso sento em um toco pequeno, respiro fundo e contemplo os sítios naturais, reinos divinos dos Orixás, tanto aqui em Aruanda como os locais da Terra material. E não me canso de aprender com essa atividade.
E hoje estava olhando o céu azul com poucas nuvens, e havia acabado de chover, uma chuva grossa, seguida de uma leve e refrescante garoa fina. O que possibilitou a visualização de um enorme e nítido arco-íris. Com seus sete-raios, e suas sete cores vibrantes, me encantei com o fenômeno. Passei algumas horas em observação e meditação reflexiva sobre a mão de Deus em cada espaço e fenômeno natural.
A diversidade daquelas cores, que não brigavam entre si, apenas se fundiam em suas bordas gerando outras tonalidades, como se cada uma soubesse seu espaço, e nos limites de cada uma se uniam para formar um belo conjunto. Imaginei se o arco-íris fosse inteiramente verde, se fosse lilás, ou mesmo amarelo, nunca seria tão gracioso e inspirador como o é por ser multicolorido.
Observei que a própria formação do arco-íris se dava na fusão de vários fenômenos naturais, era preciso sol, era preciso chuva, era preciso chuva em determinado volume e o sol só mostraria o arco-íris em momentos do dia. Vi que quando a natureza se encontra mesmo sendo quase antagônicos, como sol e chuva, podem se unir e trazer vida e beleza a esse planeta.
A beleza de unirmos vários diferentes para a construção de uma só visão roubou minha mente. Em contemplação às florestas de Oxossi, sua diversidade de palmeiras, de árvores, de flores, de animais e quanto tempo poderia eu passar ali vendo em diversos ângulos e sempre encontraria um cenário novo, e uma oportunidade de aprendizado.
O mesmo para as inúmeras praias, cachoeiras, minérios, campos. Deus é definitivamente o senhor das diversidades, nada em sua criação é monótona.
E olhando ainda para o semicírculo criado pelas cores, pensava se em outros planetas haveria tal fenômeno, e que se esse fenômeno seria de cores diferentes, de números diferentes, e percebi que por mais que estudiosos se debrucem sobre a descoberta de outros astros e planetas descobrem acima de tudo que não existe nenhum igual ao outro.
Maravilhado com esse pensamento, segui pensando em florestas diversas e em outras galáxias, vidas distintas das que aqui conhecemos.
E olhei mais uma vez para a nossa Terra, e nela olhei os humanos. Quantos traços nos diferenciam um do outro, nenhuma impressão digital é igual a outra, nenhuma curva de orelha é igual, nenhum olho, nada é igual mostrando que Deus é rico na diversidade de sua criação de maneiras inimagináveis.
Observando isso me deparei que Deus nos quer diferentes, cada qual com seu processo, seu tempo, nos permitindo trilhar um caminho individual. Mas olhando nesse viés me deparei com o encontro das cores dentro do arco-íris, apesar de uma diferente da outra, uma não disputava com a outra. Ao contrário, se uniam e criavam o belo fenômeno.
Percebi que a formação desse belo arco se dá pela decomposição da luz nas gotículas de água na atmosfera e, portanto, apesar de nos mostrar que cada cor é uma, a união delas se faz a luz do sol, a luz que dá a vida ao nosso planeta.
Essa informação me deixou ainda mais comovido com a sapiência de Deus. Afinal ele nos deixava construirmos as nossas diferenças, nossos caminhos, e assim formaríamos o arco-íris da vida humana, mas se nós não compreendêssemos que somos apenas a decomposição da luz da vida que é Ele, não entenderíamos o que realmente somos.
O arco-íris é a luz do sol se mostrando em diversidade de sua formação. Nós somos os arco-íris de espíritos que devemos mostrar que somos unidos a luz do sol que dá a vida, e separados não somos nada, apenas faixas de luz que não sobrevivem isoladas. Mas juntas seremos o reflexo do Criador.
Fiquei emocionado, pois compreendi de verdade os filhos e filhas dos Orixás, com suas tonalidades diversas, e percebi que se aprendêssemos a nos unir de verdade geraríamos a Luz que a Terra necessita, seríamos assim um de novo com Deus.
Ainda sob forte emoção, concluí minha contemplação. Se não soubermos viver na diversidade, não compreenderemos Deus. Pois lutamos com tantas forças para que todos sejam iguais, que não iremos formar nunca o nosso arco-íris.
Que possamos compreender a diversidade em todos os seus sentidos, desde os caminhos religiosos até as orientações sexuais, e assim conseguiremos parar de lutar uns contra os outros, mas continuarmos sendo diversos, porém unidos para refletirmos a luz do Sol, a Luz de Deus.
Que lindo o arco-íris de Deus.
Pai Tobias de Guiné